1 de setembro de 2010

Barbara!


Estava num dia comum experimentando o Twitter. Comecei, como muitos, a seguir nomes conhecidos da mídia e que tivessem importância na minha vida ou naquele momento. Descobri, então, que os importantes raramente enxergarão seus posts no meio da enxurrada de mensagens da multidão de seguidores que eles tem. Bom, acabei por conquistar alguns amigos por lá (sim, eu considero amigos no Twitter!). Daquela época ainda tem: o @Bobfilho , o @LuizAlper , o @FrankRosolino , o @alaorcoutinho , a @danicascaes , a @Janemurback , a @lubrasil , a @crisbordignon , a @mcparoni , a @lianamachado, a @pinkywainer ...e um monte de gente que vai reclamar que eu não citei aqui, é certo. Existem pessoas que sigo gratuitamente (sigo sem ser seguido), por conta do conteúdo ou de admiração. Tem uma dessas pessoas importantes que nos enxerga no Twitter, aliás vai além disso (calma que eu explico!). A Barbara Gancia. Desde que conheci a coluna Barbara Responde na revista da Folha, no início dos anos 90, venho acompanhando as aparições dela. Pegava o jornal de domingo e guardava a revista para ser lida durante a semana e guardava pro fim a coluna da Barbara, pois sempre me diverti com a deliciosa malícia de suas respostas para as diversas e absurdas perguntas. Guardava para ler a coluna Barbara Responde como se guarda a última colherada de um doce, aquela porção que prolonga a diversão, sabe?
Aí vem a possibilidade de contato, Barbara não demorou em usar o Twitter para alimentar a coluna, assim ó: “Vai, enviem perguntas. As melhores eu publicarei na coluna.” Corri para bolar umas 3 ou 4 e enviei.
Domingo seguinte, corri na banca e comprei o jornal. Contrariando a tradição, fui direto na revista ler a coluna. Estava lá, publicada, minha pergunta absurda e a resposta arrasadora da Barbara.
Foi um dos momentos mágicos na vida de um cidadão. Virei celebridade (efêmera) na família naquele domingo de sol.
Pouco tempo depois, a Rosélis (minha esposa) esteve em um evento num shopping aqui de São Paulo. Ela e duas amigas notaram uma pessoa fazendo entrevistas aleatórias com garotas que ali estavam (tratava-se de uma pré-estréia de um filme jovem). Rô (para os íntimos) comentou para as amigas:
- Gente! Conheço aquela voz! (inconfundivelmente rouca)
Nem terminou o comentário e “PAF!!” lá veio a dita cuja com um treco tecnológico empunhado pra gravar a entrevista com elas.
Fez uma entrevista rápida e objetiva como deve ser para um programa de rádio (“Barbara Cidade” na Band News FM).
Rô (que também é fã) teve uma chance e tietou:
- Sabe que sou sua fã? Mas conheço um cara que vai ficar doido quando souber que te encontrei. Inclusive pouco tempo atrás ele enviou uma pergunta pra sua coluna.
Bárbara olhou pra ela e sem pestanejar cravou:
- O Rubem Leme! Você tem cara de mulher do Rubem!
Segue-se uma porção de gargalhadas, exclamações e “UHUUs” possíveis.
Momento que está sempre na ponta da língua pra contar em qualquer ocasião. Ainda hoje me arrepio quando lembro que meu telefone tocou aquela noite e a Rô me contou com riqueza de detalhes a cena inusitada.
Agora toda vez que vejo algo ou ouço a Barbara Gancia, logo penso:
- Ói lá! Minha amiga! (Desculpa, eu me permito!)

*A coluna “Barbara Responde” você encontra hoje no Blog da Barbara, aqui: http://blogdabarbara.folha.blog.uol.com.br/

** Pergunta e resposta da coluna:

- Até quando o Pelé se acreditará cantor, o Lula, comentarista de futebol, e a Ana Maria Braga, a Madonna?"
Rubem Leme

PERDER O'LEME,
Eles só deixarão de insistir na mesma tecla quando o Roberto Justus abdicar da escova, o Silvio Luiz virar professor de etiqueta e o "Big Brother Brasil" passar a recrutar intelectuais.

10 de julho de 2010

Mãos de Michel

Foi num sábado final de outono. Tarde com Sol e vento frio, típico de São Paulo em junho. As pessoas se reúnem na frente da Matic (loja de instrumentos musicais na R.Teodoro Sampaio) pra assistir ao show que vai começar. Sentado ali estava ele com sua guitarra semi-acústica, totalmente preparado. Michel olha pro baixista, pro baterista e pronto, começa mais um evento de boa música e movimentos inusitados e nobres. O fato de Michel ser meu primo me traz orgulho e também um sentimento de que perdi parte da história de nossas vidas. Muito tempo passou até que o reencontrasse. E agora, lá, ele toca e faz feliz um monte de gente. Bom é saber que a cada dia se aprimora e ganha mais reconhecimento (vai lá no www.michelleme.com). Como queria que todos pudessem compartilhar esta sensação. Gravei parte deste show de forma amadora, mas com a intenção de mostrar aos amigos que é possível em gestos simples, dividir momentos de magia com aqueles que passam pela rua e nem sempre tem a oportunidade de participar. Fica aí essa porção.

15 de junho de 2010

Interlagos!


Quem conhece o autódromo de Interlagos sabe que as coisas lá acontecem de um modo não muito normal. Agora, imaginem esse lugar que hoje em dia é inóspito nos idos dias da década de 1970.
Chegar lá já era uma aventura a parte. Morando na região central de São Paulo (Brás e Pari naquela época eram Zona Leste e hoje em dia essa região se expandiu e estes bairros estão próximos ao centro) e se escolhido fosse ir de ônibus, isso custaria ao menos um terço do seu valioso dia.
Bom, mas a verdadeira razão deste texto não é o caminho e a distância a ser vencida e sim a aventura que segue.
O Toninho, meu primo, é um aficionado por automobilismo e isso de certa forma me influenciou, pois somos muito próximos, creio que por conta da idade e da afinidade. Desde criança ele tem por hábito acompanhar a Fórmula 1 e sempre teve acesso a informações valiosas e não amplamente divulgadas (não me pergunte como). Muito provavelmente por seu irmão mais velho, o Marcos, que se envolveu em competições (amadoras) e participou de um meio recheado de figurões do ramo, do naipe de Camilo e Camilinho Cristópharo, Molinari, etc..

Sei que um dia ele me ligou e foi logo dizendo:
- Vai ter um teste do Coopersucar no sábado. Quer ir?
-Quem vai?
-Eu, você e o Paulinho (primo distante daqueles que encontramos em grandes festas, velórios e afins)
- Agente vai de ônibus?
- Acho que meu pai leva. (Ufa!)
- Tá bom.
Sábado 7:00 hs da manhã lá estava eu me achando preparado para enfrentar as desavenças climáticas que Interlagos proporciona. Eufórico para ver o teste do.....Coopersucar!?!?!? Que nada, o bom era passar um dia grandão ao lado do amadíssimo primo (amigo, irmão, confidente, parceiro, cúmplice,...).
Entrei no carro e pra lá seguimos. Caminho longo e diferente do trivial. Avenidas, marginais, ruas desertas, terrenos baldios, e tudo muito cinza, sempre foi essa minha sensação visual.
Chegamos. Fomos de encontro ao primeiro desafio: entrar no autódromo.
Depois de contarmos algumas histórias tristes e encenarmos alguns dramas baratos o segurança parrudão permitiu que entrássemos. Como de costume entramos calmamente e ao primeiro ruído de motor, saímos em disparada, ofegantes como fãs adolescentes em show do grande ídolo.
Chegamos na arquibancada, levamos “rápidos” quarenta minutos pra decidirmos em qual posição ficaríamos (lembrem-se: para assistir “um” carro de Fórmula 1 sendo testado). Lógico que quando estávamos bem acomodados e o carro já tendo passado por “inúmeras” 3 vezes em nossa fuça, CABRUM!!! Começa a chover. Corremos até a “Tribuna de Imprensa”, uma pequena parcela da arquibancada, com cobertura e cercada por uma mureta baixa. Não sei se este lugar ainda existe. Em dia normal de corrida realmente era reservado a imprensa, mas nesse dia o autódromo parecia estar reservado para nós 3 e a equipe do carro. Fez-se então um bom momento para um lanchinho. Tirei dois sanduiches magrinhos da minha sacola de sarja, daquelas que parecem um saco que quando se puxa um cordão acaba-se estrangulando a abertura. Comi como se não houvesse amanhã. Toninho puxou um maço de dinheiro do bolso e foi comprar um hambúrguer e uma “Crush”, suficiente pra dizimar a pequena quantia. Paulinho sacou de sua bolsa uma maçã e reservou um bolo Pullman, do qual se gabou:
- Rá! Agora só eu tenho o que comer mais tarde! Vocês estão na minha mão. (Ficamos esperançosos).
Volto agora a falar da lanchonete. Seria uma afronta à memória se não comentasseo cheiro de gordura que aquela “chiboca” emanava de suas entranhas chamadas de “cozinha”. Inconfundível.
Bem, estávamos lá na “Tribuna” esperando a chuva parar quando de longe avistamos um sujeito atravessar a tela de proteção da pista por um buraco generoso. Ele cruzou a pista, no início da reta de chegada, e seguiu tranquilamente para os boxes. Nós entreolhamos e sem emitir um som corremos para o tal buraco. Também cruzamos a pista (e isso já era bem emocionante) e em meio a uma avalanche de adrenalina tentamos caminhar o mais tranquilamente possível (com uma baita tremedeira nas pernas). Chegamos ao Box do Coopersucar. Primeiro nos escondemos e ficamos fitando o trabalho dos mecânicos, daí viramos cachorros em frente açougue quando avistamos Emerson e Wilsinho Fittipaldi e por fim chegamos ao clímax quando um dos mecânicos permitiu que entrássemos e encostássemos no carro. Tocamos a roda traseira do Coopersucar como os macacos naquela cena do Monolito no filme “2001 uma Odisséia no espaço”.
Após toda excitação, fomos gentilmente expulsos dali.
Voltamos extasiados para o lado dos simples mortais, a arquibancada. O Sol deu seu ar da graça. Assistimos as emocionantes sete voltas do Fórmula 1 brazuca e.....pronto, veio a chuva novamente. Corremos para nosso abrigo natural, a “Tribuna” e foi aí que o Paulinho, ao pular a mureta, meteu a testa numa viga de madeira da tosca cobertura. Num reflexo animal ele lançou sua bolsa certeiramente e com muita força na viga maldita e se você for lá em Interlagos, ainda hoje ouvirá o eco do grito gutural de dois adolescentes aterrorizados:
- O BOOOOOOLLLLOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!

9 de maio de 2010

Francolino e os Sinos!


Quando era criança e estava em casa, pela manhã ouvia um som que vinha da rua. Pareciam pequenos sinos mágicos. Sinos agrupados que tocam e se manifestam quando são chacoalhados. Ao mesmo tempo ouvia-se também o ruído delator de uma carroça, que chega girando suas grandes rodas de madeira raiada, arrastando a sinta metálica protetora do atrito. De repente os sinos paravam e ouvia-se uma voz masculina gritando uma espécie de canto lamentoso:
- Garrafeeeeeiroooooo!
Então eu corria até a janela, me pendurava nas grades e avistava a pequena carroça que era tracionada por um ser maltrapilho e bem sujo. Estavam lá as garrafas, penduradas, por todo o contorno da rude carroça de tração humana. As garrafas se batiam, tilintavam com uma harmonia que Hermeto Pascoal invejaria.
O que seria hoje um “catador de sucatas” um “reciclador” era o garrafeiro daquela época. Garrafa do leite, da coalhada...coisas que não existem mais.
Passado um tempo, o som dos sinos sumiu, mas o mesmo garrafeiro, agora não tão maltrapilho, puxava a mesma carroça que transportava um novo ramo:
- Batateeeeeeeiroooooo!
Era uma nova fase, que durou algum tempo, até surgirem as grandes redes (multinacionais) de supermercados.
Daí que um tempo depois eu estava caminhando rumo a escola e vi que a banca de jornal da esquina tinha um novo dono. Sim, lá estava o garrafeiro, batateiro....agora jornaleiro!
O nome dele: Francolino (não, eu não inventei.). Nunca soube o primeiro nome e sempre acreditei que este era o sobrenome.
Fez fama no novo empreendimento. Ele vendia figurinha fiado pra molecada e depois cobrava educadamente das mães (depois rolava uns petelecos em casa!), entregava jornal a domicílio (primeiro delivery que conheci.), fazia rifa de jantar “TudoPago” para o “Rodízio de Pizzas do Grupo Sérgio”(????) e mais uma porção de “ações de marketing”.
Com isso, logo chegou ao cargo de presidente da associação dos amigos do bairro. Lá ele promoveu diversos eventos como bailes, desfiles (paradas), reformas de praças, etc.. Sua fama divertida cresceu quando em um discurso (num destes desfiles que envolvem fanfarras de escolas) ele, no anseio de falar com “boniteza”, soltou:
- E aguardem as surpresas que estão sendo preparadas para as festas “Joaninas”!!!!
E assim foi se estabelecendo uma cumplicidade dos moradores com o figura Francolino.
Como todo excesso de exposição cansa, cansei eu e muitos outros de Francolino.
Soube que no início dos anos oitenta ele se candidatou a vereador. Não sei por qual partido e isso realmente não interessa.
Soube também que Francolino caiu do alto da cobertura de um prédio, lá no bairro da Luz, próximo a igreja de São Cristóvão.
Ele, sozinho, foi instalar uma faixa de propaganda eleitoral, num feriado (ou domingo), caiu para dentro do fosso do prédio. Foi achado dias depois. Morto.
Todos se lembram.
Passou como se nada fosse.

5 de maio de 2010

Show?


E teve um dia que cheguei cedo em casa. Antes mesmo de descer do carro sou abordado (não, isso não é um conto policial, não serei assaltado) pelo Celso. Ele é meu vizinho e um puta cara gente boa. Ele, já completamente bêbado me pergunta com toda a firmeza que um macho deve demonstrar quando está.......bêbado:
- De zero a dez, que nota vc dá pro CPM22?
- 2.
- Tenho uns ingressos pro show deles hoje, quer ir?
- Lógico! Que horas?
- Nove horas.
- Porra! Mas já são oito e meia!!!!
- Foda-se! Quer ir?
- Bora lá!
Tomei um banho rápido, coloquei a primeira roupa que sorriu pra mim e fomos.
Chegamos ao Via Funchal. Deixamos o carro dele num estacionamento absurdamente caro como de costume nesses eventos (fui de motorista, porque estava sóbrio, certo Mr. Bafômetro?) e caminhamos até a entrada da casa.
Lá nos deparamos com uns garotos desolados sentados na rampa de acesso. O Celso olhou pra mim e de repente ele pergunta aos tristes:
- Vocês querem ver o show?
- ......
- Não querem não?
- Queremos, queremos, queremos....!!!!
- Então tó! (6 ingressos cheirosos e originais apontados na fuça de um dos pequenos Emos)
Fez-se o ânimo naqueles meninos e eles acabaram entrando antes que pudéssemos pronunciar a palavra “Porra!”.
Lá dentro o show já estava bem andado, na verdade bem pro fim. Comecei a reparar e concluí que a idade média não ultrapassava 15 anos.
Ficamos lá no fundo observando a muvuca da garotada. Achei que iriam levantar o palco e levar pra casa. O Pit Lane parecia um berçário. Criançada doida.
Celso magoou quando soube que não havia bebida alcoólica lá dentro, mas...gente, tinha garoto bem doido lá, viu? (mães e pais descolados: preparem-se!).
Acabou o show, passadinha básica no w.c. e ao sair do prédio nos deparamos com uma enxurrada de pais e mães aguardando os rebentos quase rebeldes.
Fomos acompanhando o fluxo e lá na frente havia um sujeito vendendo bebidas, com aquelas geladeiras de isopor, quase ajoelhado ele ia gritando:
- Guarná, Coca, Água....Guaraná, Coca, Água...
De longe ele nos viu e :
- Aê Barba! Tem cerveja gelada aqui!
Porra! Todo mundo olhou pra gente!
- Dá uma aê! (só pra garantir a macheza)
Sabe que até hoje não lembro de um acorde sequer das músicas que provavelmente foram tocadas naquele show. Lembro muito bem do saborosíssimo X-salada que comi no Cambuci quando voltávamos, da companhia agradável do Celso e do sujeito da geladeira de isopor! Nunca havia me sentido tão velho!

2 de abril de 2010

O Poder Da Pedra.


É comum quando uma pessoa inicia num novo emprego. Não foi diferente quando isso aconteceu com o Wanderley. Chegou lá, sentou na mesa que lhe era reservada. Mesa que era de um parceiro que fora muito querido. Wanderley manteve o padrão de comportamento.
O tempo foi passando e o desconforto inicial diluiu-se nas tramas do dia a dia. A rotina de um escritório auxilia a socialização dos novatos.
Wanderley (ou Banderley como passamos a chamá-lo) revelou-se um cara de bom papo, entretido nas tarefas quando solicitado, prestativo em diversas situações e principalmente divertido, dono de um bom humor inteligente e sutil.
Tinha a hora do almoço, a gente se divertia, ao mesmo tempo se falava de trabalho, diversas vezes a gente resolvia problemas de relacionamento interno.
Bem, as coisas foram mudando, logo a proximidade de idéias era claramente perceptível.
Cada happy-hour virava celebração de amizade infinita.
Daí para as confissões foi um pulo.
Soube então (por ele mesmo) que Wanderley usava cocaína. Comprava toda quinta-feira e dedicava o final de semana ao consumo absoluto de tudinho.
Chegava na sexta-feira e ele fazia cara de menino mergulhado em piscina de algodão doce.
Não era raro quando ele pedia cobertura pra cheirar no banheiro do escritório. Lá estava eu tomando o décimo oitavo café sem graça da manhã. Eram várias carreiras, muitos tiros.
O uso do “pó” se tornou excessivo. Um dia tive que ir até a casa dele, pois fazia três dias que não mandava notícia e estava com o carro da empresa. Foi a primeira vez que vi alguém em plena crise de abstinência.
Certo dia Wanderley saiu para uma medição em Paraty. Daí que a polícia mandou que ele parasse. A tal “paranguinha” tava lá, no bolso dele. Resultado: carro apreendido e Wanderley recolhido para um...”cafofo”.
Sei que fizeram um tipo de chantagem com os proprietários da empresa, pedindo grana em troca do carro e do Wanderley...até hoje não entendi direito o achaque.
O impasse foi resolvido (com grana, ou com influência externa, ou com outra porra qualquer) e Wanderley voltou. Dia seguinte tomou um sonoro “pé-na-bunda”.
Foi parar numa empresa lá no interior rico de São Paulo.
Lá ele foi apresentado ao crack.
Menos de um ano depois Wanderley morreu. Deixou mulher, filhos (lembro do “alemãozinho, cabecinha de pêssego, hoje deve ter uns vinte e poucos anos) e muitos amigos.
Lembro-me perfeitamente do “Banderley” falando:
- Aê Billy Joe, hoje é sexta-cheira!
Bacana né?

4 de março de 2010


Rua Barão de Itapetininga - 2004 - óleo sobre tela

Largo do Tesouro - 2000 - óleo sobre tela

Largo do Rosário - 2000 - óleo sobre tela

Largo da Sé - 2004 - óleo sobre tela


Estação da Luz I - 1999 - óleo sobre tela


Anhangabaú SP/SP - 2004 - óleo sobre tela

Eu, Chico, Meu Pai e A Escova de Dentes!

Jamais esquecerei o dia em que estavamos reunidos em casa (eu, Edú, Silvio, Gil, Galinha, Hélcio, Angela...)na maior animação, após um dia absolutamente aproveitável no clube. Música boa, boa companhia, gente bonita...felicidade assim simples.
Derepente vejo que o Chico sumiu da cena. Notei uma certa movimentação no lado de cima (sim...era um sobrado). Procurei espiar sem que me percebessem.
- Oque é issooooo!?!?!?
Desce o Chico de touca de banho, sem camisa, enrrolado numa toalha rosa e com "MINHA" escova de dentes, nos dentes!
Descidiu ir assim até a padaria pra comprar mais cervejas. Como não eramos tolinhos, o seguimos em cortejo pra apreciar de perto a reação do povo.
A reação foi a minha. Entrou Chico e trupe de cabeludos na padoca. Muitos se acbaram na risada, mas um, lá ao fundo espreitava curioso. Meu Pai! (não é uma expressão de espanto, era ele mesmo.)
Agora pense num sujeito que passou os próximos seis meses sem pisar na padaria ao lado de casa. Tinha que atravessar meio bairro pra comprar pão e leite. Pense!

Agora o lado bom da história. Ainda vivemos momentos hilários como esse, mesmo passados tantos anos e melhor ainda, toda essa energia criativa as vezes resulta em trabalhos como o do Chico Guerreiro que apresento agora pra vocês!
Veja as postagens acima.

3 de março de 2010

Murrê!


Ave anuncia lá no longe

Que a Terra vai murrê!

Ouvi palavras tão sintida

De quem adurmiceu.

De que adianta agora

Se o rumo já se deu.

As veiz me dá vontade

De chorá até murrê!

25 de fevereiro de 2010

Paixão Alemã


Era assim, quando a Clarice nos visitava tudo parecia mais animado e feliz. Isso acontecia pelo menos duas vezes por semana, geralmente numa quarta-feira a noitinha e outra no sábado a tarde. Olha que ela morava do outro lado da rua.
O fato de a Clarice contar piadas, fazer caretas e falar alguns palavrões me enchiam de entusiasmo e de uma sensação de liberdade. Diferente, principalmente, porque estávamos dentro de casa, num ambiente seguro e tínhamos o prazer da exclusividade.
Conversam descompromissada e divertida, que levava horas e passava rapidinho de tão boa.
Um dia ela chegou com novidades:
- Vou pra Alemanha.
- Com quem?
- Uma amiga minha, a Diva, mora lá faz um tempo. Casou. Me convidou. Parece que lá tem emprego e pagam bem.
-Quando?
- Semana que vem. Falta acertar o passaporte.
- Tem certeza?
- Tenho que tentar. Aqui não rola nada, to desempregada faz um ano. Vou antes que acabe a grana.
E assim foi.
Clarice na Alemanha e nós aqui com saudades.
De repente, numa tarde, chegou uma carta de lá (não havia internet...bom lembrar)
Descrevia em detalhes a situação, como eram as pessoas, as coisas, o clima, o cheiro. Mandei logo uma resposta. Entusiasmado eu perguntava tanto cabiam as idéias num papel. Logo vieram novas cartas de lá. Vinham com fotos da neve,recortes de revistas, gravuras maravilhosas (não tenho mais nenhuma...fucks), cartões postais, etc. e tal.
Comecei a nutrir desejo de ir pra lá. Comecei até a acompanhar um curso de alemão pela TV Cultura (pode?).
Nessa troca de correspondência chegou a notícia da visita de Diva ao Brasil. Diva gostaria de nos conhecer.
- Lógico. Avise quando ela chegará. Iremos buscá-la no aeroporto. (A Lufthansa ainda operava em Congonhas).
Chegaram.
Diva e Sylvia.
Sylvia uma alemã linda, de bochechas vermelhas, loira legítima, raro de se ver.
Pah! Apaixonei!
Conversamos muito, passeamos, conhecemos amigos uns dos outros.
Cada momento que passávamos juntos ia me interessando mais e mais pela “viking” Sylvia. A testosterona adolescente transbordava da pele e a coisa fervia toda vez que a encontrava.
Numa ocasião fomos a um parque (Guarapiranga se não me engano) e em certo momento percebi que Sylvia tomava a goladas uma espécie de xarope. Não entendi e pouco importava. Eu queria era estar perto dela.
O devaneio foi interrompido quando tive que viajar para Campos do Jordão para um camping selvagem, combinado havia tempos com meu primo e um amigo (essa eu conto depois).
Todo aquele tesão me fez antecipar o retorno. Sabia que a Sylvia iria embora e tinha que me despedir.
Valeu. Cheguei a tempo. Fui premiado com um “selinho” da nórdica.
Selinho. Rendeu anos a sensação.
Passado um tempo as cartas da Clarice não chegavam mais. Senti falta, escrevi cobrando. Parei logo com receio de me tornar um pentelho.
Num certo dia o telefone toca:
- Alô...Oi Clarice...tá, tá bom.
- O que foi?
- A Clarice...falou que chega amanhã. Pediu que não falássemos nada a ninguém. E se possível que fossemos buscá-la no aeroporto.
- Algum problema?
- Parece...tava aflita.
- Como assim?
- Amanhã ela conta. Sossega!
Ela contou. Foi pra lá esperando progresso. Com o tempo descobriu que Diva era mentora de uma pequena rede de tráfico de remédios proibidos na Europa.
A Sylvia, ah Sylvia, não passava de uma “mula” (Oh! Gloriosa “mula das neves”).
O xarope...funcionava como alucinógeno, licergia disfarçada.
A Clarice voltou. Sua vida ameaçada. Veio fugida. Uma mão na frente e duas atrás. Voltou mais pobre, mas ainda viva.
Nunca mais demos risadas juntos.