2 de abril de 2010

O Poder Da Pedra.


É comum quando uma pessoa inicia num novo emprego. Não foi diferente quando isso aconteceu com o Wanderley. Chegou lá, sentou na mesa que lhe era reservada. Mesa que era de um parceiro que fora muito querido. Wanderley manteve o padrão de comportamento.
O tempo foi passando e o desconforto inicial diluiu-se nas tramas do dia a dia. A rotina de um escritório auxilia a socialização dos novatos.
Wanderley (ou Banderley como passamos a chamá-lo) revelou-se um cara de bom papo, entretido nas tarefas quando solicitado, prestativo em diversas situações e principalmente divertido, dono de um bom humor inteligente e sutil.
Tinha a hora do almoço, a gente se divertia, ao mesmo tempo se falava de trabalho, diversas vezes a gente resolvia problemas de relacionamento interno.
Bem, as coisas foram mudando, logo a proximidade de idéias era claramente perceptível.
Cada happy-hour virava celebração de amizade infinita.
Daí para as confissões foi um pulo.
Soube então (por ele mesmo) que Wanderley usava cocaína. Comprava toda quinta-feira e dedicava o final de semana ao consumo absoluto de tudinho.
Chegava na sexta-feira e ele fazia cara de menino mergulhado em piscina de algodão doce.
Não era raro quando ele pedia cobertura pra cheirar no banheiro do escritório. Lá estava eu tomando o décimo oitavo café sem graça da manhã. Eram várias carreiras, muitos tiros.
O uso do “pó” se tornou excessivo. Um dia tive que ir até a casa dele, pois fazia três dias que não mandava notícia e estava com o carro da empresa. Foi a primeira vez que vi alguém em plena crise de abstinência.
Certo dia Wanderley saiu para uma medição em Paraty. Daí que a polícia mandou que ele parasse. A tal “paranguinha” tava lá, no bolso dele. Resultado: carro apreendido e Wanderley recolhido para um...”cafofo”.
Sei que fizeram um tipo de chantagem com os proprietários da empresa, pedindo grana em troca do carro e do Wanderley...até hoje não entendi direito o achaque.
O impasse foi resolvido (com grana, ou com influência externa, ou com outra porra qualquer) e Wanderley voltou. Dia seguinte tomou um sonoro “pé-na-bunda”.
Foi parar numa empresa lá no interior rico de São Paulo.
Lá ele foi apresentado ao crack.
Menos de um ano depois Wanderley morreu. Deixou mulher, filhos (lembro do “alemãozinho, cabecinha de pêssego, hoje deve ter uns vinte e poucos anos) e muitos amigos.
Lembro-me perfeitamente do “Banderley” falando:
- Aê Billy Joe, hoje é sexta-cheira!
Bacana né?